![A Arte Poética e a Poesia em Aristóteles](https://static.wixstatic.com/media/6aab26_588c715d1d4540c2993b504bdc261f41~mv2.webp/v1/fill/w_980,h_472,al_c,q_85,usm_0.66_1.00_0.01,enc_avif,quality_auto/6aab26_588c715d1d4540c2993b504bdc261f41~mv2.webp)
A Arte Poética
Aristóteles foi um dos primeiros pensadores a teorizar sobre a poesia, e praticamente fundou a crítica literária ao conceber uma de suas obras mais famosas, a Arte Poética.
Contudo, antes de verificarmos o que dizia o Estagirita propriamente sobre a poesia, é necessário conceituarmos o que seja a “poética” (peri poetikes) para o pensador.
Em Aristóteles, a poesia, bem como outras formas de expressões criativas, fazia parte do instinto do homem de criar, ao qual Aristóteles chamava de ciência poética, que juntamente com o saber teórico e o prático, compunha as ciências do homem.
Este “saber poético” leva o homem a compreender e dominar mecanismos para subjugar o processo de criação das mais diversas aplicações criativas que a mente humana consegue conceber, às quais chamamos de artes enquanto os gregos chamavam de técnica (techné).
Com efeito, podemos conceber não apenas o que pode nos vir à mente num primeiro momento, as belas-artes, mas todo o tipo de arte produtiva como a medicina, engenharia e afins.
Nesta ciência poética do homem que concebe as mais diversas artes – entendidas nos moldes gregos – estão implícitas duas categorias: as artes/técnicas que visam um fim pragmático e ainda outras que buscam por fim a imitação fenomenológica da natureza, às quais chamamos de “belas-artes”, e pelas quais Aristóteles vai discorrer na Arte Poética, focando sobretudo na poesia trágica e épica.
A Poesia
Uma vez introduzido o conceito de Poética, Aristóteles assinala que o valor da poesia deriva de sua capacidade mimética de narrar fatos universais segundo as leis da verossimilhança; descreve aquilo que é ou pode vir a ser no tecido da realidade.
Desta capacidade flui o valor ontológico superior que a poesia possui; tudo aquilo que abarca um caráter universal, ou seja, consegue com um só princípio abarcar centenas de aplicações no âmbito dos particulares, tem necessariamente de ser superior às aplicações, uma vez que as contêm. A poesia possui como parte de sua substância esta universalidade em detrimento de outras formas literárias como a narração histórica, que narra apenas o que é estritamente particular, contingencial. A história pode argumentar em favor da bravura de Alexandre Magno, a poesia argumentará em favor da própria bravura em si mesma.
A despeito do que modernamente podemos pensar, o que torna a poesia, poesia, não é a forma como ela está estruturada – se em verso, sem em prosa – nem mesmo a métrica, rima ou melopéia. Empédocles utilizava a métrica – que arrolamos sempre a poesia – para tratar em seus escritos sobre medicina. Rima, estrutura, versos, são ou podem ser meros acidentes da substância “poesia”.
O que torna a poesia em poesia é propriamente sua característica de narrar de forma sintética verdades universais através de sua essência inerentemente mimética, o que a torna uma arte suprema. Uma verdadeira imitação do todo da realidade em fragmentos poéticos.
A despeito de seu mestre Platão, Aristóteles olhava com mais otimismo para este caráter mimético das belas-artes. Para ele, longe de deteriorar as verdades universais – ou formas – até que se dissipar em meras cópias fajutas do verdadeiro, as belas-artes imitavam-nas para trazer um realce e nitidez através de uma nova dimensão ao serem recriadas poeticamente.
A poesia consegue evocar sinteticamente estados e percepções do ser humano e nos ensinar através de um apelo estético que cativa, que pode ser memorizado, refletido, declamado e vivenciado por qualquer pessoa, em qualquer lugar.
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