![A Crise na Educação](https://static.wixstatic.com/media/6aab26_ebf0bb70fa37450dbf209ba619289fde~mv2.webp/v1/fill/w_980,h_472,al_c,q_85,usm_0.66_1.00_0.01,enc_avif,quality_auto/6aab26_ebf0bb70fa37450dbf209ba619289fde~mv2.webp)
A CRISE NA EDUCAÇÃO
Hoje a educação é peça central em qualquer discurso político ou social. Entretanto, no cenário atual, podemos enxergar diversos problemas que nos levaram a uma crise na educação. Crise essa não restrita ao sistema educacional brasileiro, mas que perpassa a educação de modo geral. Desde uma crise de autoridade, que passa por uma crise social e que resulta em uma crise nos conteúdos. Portanto é mister aprofundar nesses problemas gerais para observar o cenário como um todo, para posteriormente enxergar com clareza o cenário nacional.
Inicialmente, para analisar a crise na educação é fundamental partir do pressuposto de que ela existe, negar que estamos em crise é uma atitude muito comum no meio educacional, principalmente com a ilusão de que as metodologias modernas de educação são a solução de todo e qualquer problema educacional.
Segundo Hannah Arendt, é possível observar que o ocidente entrou em decadência educacional e esse declínio se deu por diversos motivos, entre eles, uma crise de autoridade, tanto dos pais como dos professores, resultado de uma crise social, de instabilidade das instituições, provocando uma crise nos conteúdos escolares, que perderam relevância no decorrer do tempo.
UMA CRISE DE AUTORIDADE
A autoridade pode ser definida como: o direito que determina o poder para ordenar; poder exercido para fazer com que alguém obedeça; especialista de reconhecido mérito em dado campo de conhecimento.
Portanto, ao trazer para o âmbito educacional, a autoridade deve ser observada de duas formas. Primeira, o professor, sendo aquele que estudou anos para adquirir o conhecimento de uma área específica, deveria ter autoridade para falar sobre tal assunto.
Segunda, o professor, por uma questão organizacional, é a autoridade hierárquica na sala de aula. Compreendendo que a responsabilidade deve ser acompanhada de autoridade, como em todos os âmbitos da vida social.
Portanto, o professor deveria ser aquele que possui autoridade, tanto em sua área específica, como a autoridade sobre a sala de aula.
A crise na educação possui profunda relação com a perda de autoridade no mundo moderno, problema político que se espalhou para áreas pré-políticas como a criação dos filhos e a própria educação. Portanto, a crise de autoridade não se limita a sala de aula, mas é uma barreira social, política e familiar. Analisando essa crise de autoridade, a filósofa Hannah Arendt diz:
“O que faz com que a crise da educação seja tão especialmente aguda entre nós é o temperamento político do país, o qual luta, por si próprio, por igualar ou apagar tanto quanto possível a diferença entre novos e velhos, entre dotados e não dotados, enfim, entre crianças e adultos, em particular, entre alunos e professores. É óbvio que este nivelamento só pode ser efetivamente alcançado à custa da autoridade do professor e em detrimento dos estudantes mais dotados.”
Essa crise de autoridade põe em cheque todo o sistema educacional, que sem a autoridade do professor, nos dois sentidos apresentados, fica refém do sistema educacional e dos alunos.
Uma das consequências dessa falta de autoridade é a indisciplina. Essa, tão prejudicial para o sistema educacional. É um problema sistêmico e muitas vezes ignorado ou tratado da maneira errada por profissionais e pensadores da área. Os educadores buscam justificativas internas para o mal comportamento dos alunos, como problemas afetivos e emocionais, mas ignoram que esses problemas geram consequências externas, que é a indisciplina, bullying e a violência. Ignorar essa por ser consequência daquela não é modo correto de tratar a questão, isso apenas atenua a indisciplina e restringe a capacidade de aprendizado de toda a sala.
Como já mencionado, a falta de autoridade atinge diversas áreas da sociedade, desde a sala de aula até a família. Considerando que uma das responsabilidades dos adultos é inserir a criança no mundo, dando a capacidade dela de se envolver com ele, desenvolvê-lo e acima de tudo respeitá-lo. A falta de autoridade impede muitas vezes esse desenvolvimento.
Novamente, Arendt diz: “A autoridade foi rejeitada pelos adultos e isso somente pode significar uma coisa: que os adultos se recusam a assumir a responsabilidade pelo mundo ao qual trouxeram as crianças. ” Ao rejeitarem essa responsabilidade, estão aleijando essa criança, impedindo que ela se desenvolva, que ela aprenda, estão incentivando um comportamento destrutivo e pior, estão o estimulando.
Portanto, torna-se esclarecedor observar a relação entre a crise educacional e a crise de autoridade. Saber qual delas é a causa e qual a consequência é um importante passo para enfrentar essa barreira na aprendizagem. Sendo a autoridade uma responsabilidade dos adultos, nos dois sentidos supramencionados, a crise de autoridade antecede a crise educacional, pois aquela é consequência dessa. Toda essa instabilidade de autoridade e responsabilidade, tanto social, educacional como a familiar são consequências de uma crise social muito maior.
UMA CRISE SOCIAL
Ao concluir que a crise na educação é consequência de uma crise social, faz-se necessário ampliar o entendimento sobre a situação atual. O filósofo José Ortega y Gasset ao fazer uma análise social diz:
“ Vivemos em um tempo que se sente fabulosamente capaz para realizar, mas não sabe o que realizar. Domina todas as coisas, mas não é dono de si mesmo. Sente-se perdido em sua própria abundância. Com mais meios, mais saber, mais técnicas que nunca, o mundo atual acaba sendo o mais miserável que já houve: à deriva, nada mais”
Ou seja, estamos no ápice do desenvolvimento, mas não sabemos como utilizá-lo, pois a base social, ética, moral, cultura e política estão em crise, reflexo de uma educação que não se mostra capaz de ensinar e educar as futuras gerações.
A crise contemporânea da educação é, pois, o correlato de uma crise de instabilidade de todas as instituições políticas e sociais de nosso tempo. Com isso, faz-se necessário um diagnóstico mais amplo do tema tratado. Vivemos em uma época de uma grande crise escolar relacionada a uma crise social ainda maior.
Ao unir a displicência dos adultos em sua responsabilidade com a autoridade a crise social contemporânea, o autor e médico psiquiatra Theodore Dalymple, analisou os resultados desses problemas no cenário britânico, relatando consequências como “ um terço dos professores britânicos sofreu ataques físicos de crianças e que um décimo deles foi ferido por crianças. Quase dois terços sofreram abusos verbais e insultos de crianças. ” . O autor continua apresentando dados de pesquisas recentes que demonstram a hostilidade das crianças com relação aos professores. Dalymple conclui que esses números já bastam para produzir uma atmosfera permanente de intimidação.
Portanto, é possível concluir que a crise educacional tem raízes profundas no estado social, sendo reflexo de um problema cultural estrutural. A incapacidade de transferir a gerações mais novas a tradição cultural, ética e política, para que, unindo com o desenvolvimento técnico contemporâneo, se alcance o sucesso é o grande desafio moderno. Essa transmissão passa prioritariamente pelo conteúdo, base do sistema educacional e por onde se sistematiza tudo o que se espera que os alunos saibam e sejam.
UMA CRISE DE CONTEÚDO
“A verdade é que as escolas não ensinam nada, de fato, a não ser obedecer ordens.” A frase do professor norte-americano Jonh Taylor Gatto, premiado professor do ano da cidade de Nova Iorque nos anos 1989, 1990 e 1991 e professor do estado em 1991 é impactante. Após uma reflexão sobre a sua docência e uma análise profunda do currículo escolar, ele concluiu que na realidade o que estava fazendo era um processo de “emburrecimento programado”, através do que ele chamou de “currículo oculto”.
Arendt pondera que a união entre pedagogia, pragmatismo e psicologia modificou a educação em um ambiente de conhecimento sobre o ensino, alterando-a em ciência da aprendizagem. Quanto a essa configuração, ela lamenta a perda da notoriedade do conteúdo a ser ensinado. Portanto, a perda da importância do currículo base, é um dos problemas que fundamentam a crise da educação.
Ao assumir o Ministério da Educação e Ciência de Portugal em 2011, Nuno Crato revelou esses mesmos problemas na educação do país, onde o sistema de ensino havia rebaixado os conteúdos básicos para se atentar a, segundo ele, uma “ pedagogia de inspiração pós-moderna e romântica”, onde se valoriza objetivos abstratos em detrimento dos concretos, minando dessa maneira a capacidade de desenvolvimento dos alunos. Diz ele, com relação a essas ideias de educação, que “levadas a sério conduzem os alunos à ignorância”.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Por fim, é observável que vivemos uma crise na educação. Crise que atinge a educação como um todo, sendo mencionado autores de diversos países relatando os mesmos problemas, relacionados a uma crise de autoridade, uma crise social e uma crise de conteúdo.
Nesse artigo, foi apresentado uma realidade ampla, que buscou demonstrar que a Crise da sociedade, reflete na crise educacional. No entanto, ainda é possível aprofundar nas questões relacionadas ao Brasil e sua atual circunstância. No próximo artigo, iremos tratar sobre os reflexos dessa ampla crise, já apresentada, em que o mundo se encontra, relacionando-os ao Brasil e a sua realidade específica, como o volume e analfabetismo funcional, reflexo dessa incapacidade educacional básica.
Comments