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Antígona e a Balança da Justiça

Foto do escritor: Davi SilvaDavi Silva
Antígona sepulta seu irmão Polinice. Sébastien Norblin (1796-1884),
Antígona sepulta seu irmão Polinice. Sébastien Norblin (1796-1884)



Antígona, uma das mais célebres tragédias de Sófocles, é uma obra que resiste ao tempo e continua a despertar reflexões profundas sobre moralidade, justiça e o conflito entre as leis humanas e divinas. Nesta peça, o tema da balança da justiça é central e é explorado de maneira comovente e instrutiva, revelando os dilemas éticos que desafiam a protagonista.

Antígona se encontra diante de uma escolha trágica: de um lado, obedecer às leis humanas e preservar sua vida, mas ao custo de violar sua consciência; de outro, obedecer às leis divinas, cumprindo seu dever familiar, mesmo que isso signifique a morte certa. Essa tensão nos conduz a um debate universal e atemporal sobre o papel das leis, da ética e da religião na condução da vida humana.


Quem foi Sófocles?


Sófocles é amplamente reconhecido como uma das maiores mentes do teatro grego e, sem dúvida, da história da literatura mundial. Autor de dezenas de tragédias, das quais apenas sete chegaram integralmente até nós, ele contribuiu de forma inestimável para o desenvolvimento do drama como forma de arte e expressão filosófica.

A sua genialidade é particularmente evidente na Trilogia Tebana, composta por Rei Édipo, Édipo em Colono e Antígona. Nessas obras, Sófocles aborda temas como destino, culpa e redenção, retratando a condição humana em toda a sua complexidade e profundidade. Em Antígona, o autor explora a tensão entre o dever individual e as imposições coletivas, oferecendo uma lição valiosa para os debates contemporâneos sobre ética e justiça.


Contexto da Obra


No centro de Antígona está o dilema da protagonista, que enfrenta uma guerra interna ao decidir entre obedecer ao decreto do rei Creonte, seu tio, que proibiu os ritos fúnebres para Polinices, e cumprir o dever sagrado de garantir ao irmão um funeral digno.

Antígona decide desafiar a ordem do rei, optando por obedecer às leis divinas, que considera superiores às leis humanas. Sua escolha resulta em consequências trágicas, mas ela permanece firme em sua convicção, defendendo que sua fidelidade aos deuses e à família é mais importante do que sua própria vida. Esse conflito reflete um dos principais temas da obra: a supremacia da lei divina sobre a autoridade humana.

Em uma das passagens mais memoráveis da tragédia, ao ser interrogada por Creonte, Antígona responde com uma eloquência que revela a força de suas crenças:

“Sim, porque não foi Júpiter quem a promulgou; e a Justiça (a deusa Dikê), que habita com as divindades subterrâneas, jamais estabeleceu tal decreto entre os humanos. Tampouco acredito que teu édito tenha força suficiente para conceder a um mortal o poder de infringir as leis divinas, que nunca foram escritas, mas são irrevogáveis; não existem desde ontem ou hoje, são eternas, sim! E ninguém sabe desde quando vigoram.”

Demonstrando coragem diante da morte iminente, Antígona prossegue:

“Tais decretos, eu, que não temo o poder de homem algum, posso violar sem que por isso me venham punir os deuses! Que vou morrer, eu bem sei, é inevitável; e morreria mesmo sem a tua proclamação.”

A Defesa da Consciência Individual


Antígona simboliza a luta pela consciência individual contra a tirania da autoridade, um tema que encontra ecos no pensamento filosófico ocidental, especialmente na figura de Sócrates. Assim como a personagem trágica, Sócrates escolheu enfrentar a morte em nome da verdade e da justiça, recusando-se a abdicar de suas convicções pessoais em favor das normas impostas pela coletividade.

Essa tragédia, portanto, não é apenas uma obra-prima do teatro grego, mas também uma poderosa reflexão sobre o papel da moralidade, da religião e da consciência individual em face das estruturas de poder. Para Antígona — assim como para Sócrates —, a lei divina transcende qualquer imposição humana, tornando-se a bússola moral que orienta suas ações, mesmo ao custo de suas vidas.


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