![Manual definitivo para entender Sócrates](https://static.wixstatic.com/media/6aab26_735c329196084f1f940397b52cbef49c~mv2.webp/v1/fill/w_980,h_551,al_c,q_85,usm_0.66_1.00_0.01,enc_auto/6aab26_735c329196084f1f940397b52cbef49c~mv2.webp)
Conhecido como um dos maiores filósofos da história, Sócrates deixou um legado intelectual que ainda ressoa nos dias de hoje. Para compreender plenamente suas ideias e sua influência, nem sempre pode ser tarefa simples no início, ainda que suas ideias sejam bastante claras e quase nunca sistematizadas.
Sócrates, além de não ter produzido nada escrito, também não tinha uma filosofia definida e sintetizada, como muitos acreditam e como seus precursores fizeram. A sua importância e notoriedade vem do seu espírito inquisitivo e incessante busca pela Verdade, como é retratado nos textos que o mencionam.
Sua forma de buscar a Verdade através das perguntas – dialética -, a ironia com a qual buscava instigar o interlocutor a dar respostas, e seu método para conduzir raciocínios mais lapidados é o que lhe deu fama em seu tempo e ainda o faz nos dias de hoje.
Esperamos que as etapas abaixo sirvam como um manual com insights, horizontes e direção precisa para você que deseja conhecer mais profundamente sobre essa figura emblemática.
1- Conhecer a Ética de Sócrates é conhecer o início de sua jornada
Conhecer a abordagem de Sócrates com relação a como o ser humano devia conduzir sua própria vida é fundamental para entender porque nas obras que o mencionam sempre é retratado com um sujeito meticuloso, ora indesejado pelos seus algozes e interlocutores, quase a figura de um chato. O motivo principal para isto é que Sócrates acreditava ter uma espécie de vocação divina para isto.
O filósofo menciona em sua Apologia que um amigo chamado Querofonte – o qual Xenofontes, biógrafo de Sócrates, relaciona a seu círculo de amigos próximos – foi até a cidade de Delfos, na Fócida, para consultar a sacerdotisa – ou Oráculo -, também chamada de Pítia ou Pitonisa, que afirmou que Sócrates era o homem mais sábio de seu tempo.
Sabedor deste fato, Sócrates passou a inquirir a todos que se diziam sábios no sentido de validar ou não esta afirmação do Oráculo sobre sua sabedoria, já que estava convicto de que não era um sábio. Com isso, Sócrates justificava ser tão insistente em perguntar sobre grandes temas como a Beleza, e a Piedade, porque entendia que era um portador desta vocação de buscar a sabedoria até ficasse evidente de que não era sábio, e que se nele houvesse sabedoria, seria a única sabedoria que se origina do fato de ser uma pessoa convicta de que sabe que não é um sábio. Para simplificar:
“Só sei que nada sei”
2- Conhecer o contexto histórico e político de Sócrates é conhecer suas justificativas
Contexto Filosófico
Para compreender as ideias de Sócrates, é fundamental familiarizar-se com a fase da filosofia antropológica em que ele se inseriu. Nessa fase, o homem e a physis (natureza) tornaram-se objetos de investigação.
Anteriormente, os primeiros filósofos como Tales de Mileto e Zenão de Eléia se ocupavam de buscar qual seria o princípio gerador de todas as coisas, chamado pelos gregos de Arché – o inicio de tudo. Eles ligavam esse princípio gerador, via de regra, a um elemento da natureza como a água ou o fogo. Esses filósofos estavam mais preocupados com questões cosmológicas.
Sócrates é quem notoriamente traz a importância de se debater a conduta humana e do papel da virtude e da sabedoria, e doravante, o centro do debate permanecerá sobre a conduta humana durante um grande período de tempo.
Além disso, explorar os pensamentos dos filósofos pré-socráticos, como Anaxágoras, que teve contato com Sócrates, também oferece insights importantes sobre suas influências e abordagens filosóficas.
Contexto Político
O contexto político da antiga Atenas desempenhou um papel significativo na vida e nas atividades de Sócrates. Conhecer os dilemas políticos dessa época e a organização do poder governamental é fundamental para entender as experiências de Sócrates.
Ele viveu no período herdado pelos avanços de Sólon e Péricles em Atenas, onde a democracia estava bem alicerçada – embora não fosse tão afeito a esta organização política como relatado por Platão – mas já rumava em ventos fortes para a crise.
Sócrates também serviu militarmente na Batalha do Peloponeso, a grande batalha entre Atenas e Esparta.
Pouco antes de sua morte, Sócrates contemplou a derrota de Atenas para Esparta e a ascensão do Governo dos Trinta Tiranos.
Ainda um fato que remete a infância do filósofo é importante de ser mencionado. Neste período da Antiguidade era comum o ofício de parteira, mulheres que ajudavam no parto de outras. A mãe de Sócrates, Fenarete, executava este ofício, e inspirou Sócrates a desenvolver seu método que ficou conhecido como Maiêutica – palavra ligada ao ofício do parto. O filósofo se via como uma espécie de “parteiro de ideias” que indagava o interlocutor até verificar se sua ideia proposta tinha contornos de uma “criança saudável” e poderia progredir. Veremos mais a frente sobre este método.
Eventos como a Democracia Ateniense e seu fim, o Governo dos Trinta e a Batalha do Peloponeso são marcos importantes desse período que fornecem contexto valioso para a compreensão de Sócrates.
3 – Conhecer seu método é conhecer suas motivações
O famoso método de Sócrates – conhecido como Maiêutica – como já mencionado consistia em duas partes.
Na primeira parte, o filósofo encontrava alguém que dizia possuir sabedoria em alguma matéria filosófica como a Justiça ou a Bondade. Levantado uma premissa dentro da conversa que buscasse responder tal matéria, Sócrates submetia essa mesma premissa a fileiras de perguntas que tinham o foco de verificar se a premissa:
Permanecendo e vencendo todos os contra-argumentos, estaria muito mais próxima da verdade, pois não restariam objeções maiores.
Não resistindo às contra-argumentações, ser refutada.
Esse processo dentro do método é conhecido como dialética, e é Sócrates quem consagra essa forma de filosofia.
Na segunda parte, caso o interlocutor se ressentisse de algum modo com as perguntas, Sócrates utiliza a ironia para afagar o orgulho do interlocutor e encorajá-lo a continuar na investigação.
Em quase todos os diálogos que Sócrates se envolvia, o interlocutor abandonava a investigação e o diálogo terminava de forma aporética – sem definições -, daí dizer que Sócrates não tinha uma filosofia restrita.
Certamente influenciado por uma das três admonições do Oráculo de Delfos que prescrevia “Conhece-te a ti mesmo” – matéria muito trabalhada em diálogos como o Fedro, Cármides, Apologia e Alcibíades I – o filósofo acreditava que as respostas poderiam ser encontradas olhando para si mesmo, embora isso não fosse tarefa fácil.
4 – Leitura na Ordem Certa: Explorando as Obras sobre Sócrates
Para mergulhar no pensamento de Sócrates, é recomendado ler as obras consideradas “socráticas” na ordem cronológica. A maior parte do que sabemos sobre Sócrates vem de citações em fontes como Aristófanes, Xenofonte e, principalmente, Platão. Este último escreveu extensivamente sobre Sócrates, utilizando-o como personagem em diálogos filosóficos. No entanto, há textos que são considerados relatos sobre os próprios diálogos de Sócrates, além de narrarem, especialmente e com foco maior, a história de seus últimos dias, julgamento e condenação. São elas, cronologicamente:
Sócrates, um dos mais renomados filósofos da história, continua a intrigar e inspirar até os dias atuais. Para compreender plenamente seu legado, é necessário explorar seu contexto histórico, entender as nuances políticas de sua época e mergulhar na leitura das obras socráticas. Ao seguir essas dicas valiosas, você estará preparado para desvendar os segredos da sabedoria de Sócrates, aprofundando-se em suas ideias e descobrindo a relevância de seu pensamento para o mundo moderno. Não perca a oportunidade de embarcar nessa jornada fascinante rumo ao conhecimento e à compreensão filosófica.
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