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O Aluno Ideal para C.S. Lewis

Foto do escritor: Bruno PhilippeBruno Philippe

Atualizado: 19 de out. de 2024

O Aluno Ideal para C.S. Lewis

 

Quem é o aluno ideal para C.S. Lewis?


O famoso livro escrito pelo pensador inglês C.S. Lewis, A Abolição do Homem, tem sido recorrentemente revisitado como um esteio e antídoto contra o famigerado “modernismo” em todas as suas formas, sobretudo no âmbito educacional.


No texto, fazendo jus à labuta contra a engenharia social, não há nada novo. Nenhuma nova fórmula educacional ou princípios pedagógicos inovadores, e eis o grande brilhantismo: uma retomada sincera de princípios milenares que nortearam a educação, entretanto amarrados pela articulação de uma das maiores mentes do mundo moderno.


Desta miríade de princípios, propomos neste artigo um exercício imaginativo baseado em três grandes pilares educacionais presentes na obra para arrozoarmos sobre qual seria o perfil e quais seriam as qualidades de um aluno ideal construído pelo projeto pedagógico ao qual Lewis se presta a retomar na obra mencionada. Serão três características interligadas pelo conceito de boa educação.





1ª Característica: O Ordo Amoris


Para Lewis, a educação é uma questão de amor. Essa premissa agostiniana calcada no platonismo postula que há no tecido da realidade uma ordem ou hierarquia que requer de nós uma correta medida de amor. O Ordo Amoris.


Deus criou todas as coisas com um respectivo valor ontológico inerente no qual o Seu próprio louvor permanece acima de todas as coisas e pelo qual deveríamos direcionar todas as nossas afeições. Em seguida, temos a vida humana disposta pela ordem das instituições legadas pelo próprio Deus, na qual prepondera o casamento e o cônjuge. Desta hierarquia se derivam todos os outros entes e objetos seguindo o valor ontológico da ordem criacional.


Como característica de um educando ideal, este entendimento é imprescindível, pois para Lewis, a educação deveria levar o educando a louvar aquilo que é bom, amando o que deveria ser amado na correta medida, e desprezando intencionalmente o restante. Este conceito é um antídoto contra a relativização, apregoando o valor objetivo das coisas, e neste processo, a educação tem o propósito de mapear, expor e conduzir até este determinado valor.

“Ele terá que ser treinado para sentir prazer, gosto, desgosto e raiva daquelas coisas que seja, realmente prazerosas, agradáveis, desagradáveis e odiosas.”

2ª Característica: Equilíbrio entre Razão e Emoção


Segundo Lewis, o sentimento nunca deve tomar o lugar da razão. Certamente, nossa sociedade – que flerta com a famigerada “inteligência emocional” ou um certo estoicismo mal compreendido – prontamente aplaudiria essa frase. As pessoas parecem torcer os narizes para o sentimento.


No campo dos relacionamentos, levantamos a bandeira do “eu me basto”. No campo da contemplação, uma predileção pela irrealidade das telas. No campo dos mais mínimos dissabores da vida, a fragilidade melancólica.


Em geral, ninguém negaria que o sentimento é visto como sinal de fraqueza. Lewis parece ser taxativamente contrário. A primeira frase deste parágrafo deve ser entendida à luz do valor que ele atribuía aos sentimentos. O pensador não apenas defendia a nutrição dos sentimentos, mas discorria sobre “sentimentos falaciosos” e “sentimentos corretos”.

Obviamente, essa noção se conecta com o Ordo Amoris e o valor objetivo presente na realidade, e, neste sentido, uma vez que cada objeto nos conclama a amá-lo de um modo a obedecer à hierarquia ontológica presente na Criação – e desprezar de todo o coração a maldade intrusiva nela presente – o que garante este processo é a educação do sentimento.


Não basta um tributo compulsório – seja qual for o motivo para tanto – ao Belo, mas sentir e deslumbrar-se com este em todas as suas formas físicas e abstratas, de uma gravura de Gustave Doré a um gesto de bondade ao próximo na rua.

Sentimentos corretos apenas incidem sobre objetos corretos e na medida correta, direcionados ao pérfido ou sendo desmedidos, tornam-se falaciosos.

“A defesa certa contra sentimentalismos falaciosos é incutir sentimentos corretos.”

O aluno ideal então percebe o valor que o sentimento correto bem nutrido tem de cativar os olhos e a alma em direção ao Bom, Belo e Verdadeiro. Ele sabe, como C.S. Lewis exemplifica, que é o sentimento bem nutrido que o manterá nas fileiras de uma trincheira ao brandir dos alaridos de uma batalha.


A relação entre o sentimentalismo correto obedecendo à boa razão seria uma característica de um bom educando e a missão do ofício do educador.


3ª Característica: Tem a ideia de posteridade


Somente alguém bem educado desenvolve a capacidade de pensar além de si, movido por real altruísmo. Essa seria uma característica marcante para C.S. Lewis.


“Acho muito mais difícil acreditar que a maioria das pessoas que se sentou na minha frente no ônibus, ou passou horas comigo em filas, sintam um impulso irrefletido de fazer qualquer coisa em relação à espécie ou à posteridade.”

São escassos os exemplos de pessoas ao nosso redor cultivando ações que visam trazer benefícios aos outros, ainda que se trate de um próximo ou ente querido. Quando pensamos no grupo de pessoas que trabalham pelos interesses da vizinhança, do município, da cidade, do país ou da humanidade sem interesse outro que não seja o respectivo bem dos beneficiários, esse grupo certamente se torna ainda menor e talvez não conheçamos ninguém do rol.


Porém, uma característica de alguém bem educado – que entende o Ordo Amoris e que sabe o valor do sentimento – é justamente a capacidade adquirida de saber que a Virtude, sobre todas as outras coisas, possui um valor objetivo máximo, e que, portanto, deve ser atendida sem visar os resultados ou benefícios. Nesta direção, não importa tanto se veremos o resultado de uma boa ação ou se apenas as próximas gerações serão beneficiadas, mas tal ação deve ser praticada pelo valor ontológico que carrega em si e pelo bom sentimento que saudará a alma por construir um legado ao próximo. Porém, apenas o aluno ideal irá perceber isso.

“Só pessoas educadas de uma forma particular podem ter a ideia de “posteridade” em mente.”


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