![[Crise] Número de analfabetos funcionais no Brasil vai te surpreender! A cada 10 brasileiros…](https://static.wixstatic.com/media/6aab26_e29280dc7de64e89abfddc2931b62560~mv2.webp/v1/fill/w_980,h_1397,al_c,q_85,usm_0.66_1.00_0.01,enc_auto/6aab26_e29280dc7de64e89abfddc2931b62560~mv2.webp)
Prometeu – A Origem
Na mitologia grega, Prometeu era uma espécie de Titã – divindades derivadas dos deuses primordiais -, contudo, era uma espécie de “Titã de segunda ordem”, pois os primeiros, dos quais pertenciam seu tio Cronos, e seu pai, Jápeto, eram os antagonistas vencidos pelos deuses olímpicos e condenados ao Tártaro.
Jápeto havia desposado a Oceânide, Clímene, que concebeu Prometeu e seu irmão Epimeteu. O nome Prometeu faz referência à “antevisão”, a “saber previamente”. Já Epimeteu significa o contrário. Tem haver com “posterioridade”, “saber depois”. Essas informações são importantes para entendermos o que está mais adiante.
Sob o comando de Zeus, a primeira geração de homens viviam de forma pacífica na chamada Era de Ouro. Eles haviam sido concebidos sob os auspícios de Prometeu, que lhes ensinará as artes da agricultura, pesca, comércio e ainda outras mais, juntamente com Palas Atenas. Prometeu era favorável aos homens.
![Prometeu cria o ser humano Sarcófago romano, ca 240 a.C., Louvre](https://static.wixstatic.com/media/6aab26_089cf7f7618d4026ab812e79bebf6be9~mv2.webp/v1/fill/w_980,h_311,al_c,q_80,usm_0.66_1.00_0.01,enc_auto/6aab26_089cf7f7618d4026ab812e79bebf6be9~mv2.webp)
O Banquete dos deuses e homens
Certa vez, num banquete para selar a paz entre deuses e os homens que disputavam em Mecona – antiga Sición-, Prometeu foi chamado por Zeus para atuar como uma espécie de intermediário. Ele cuidou de imolar um touro para a cerimônia – inaugurando a hecatombe – e dividiu-o em duas partes que seriam destinadas uma aos deuses e outra aos homens.
Em uma parte, Prometeu separou os ossos do animal e cobriu-a com uma apetitosa camada de gordura. Na outra parte, ele separou as carnes nobres do animal porém cobriu-as com o estômago indesejado do animal, de forma que sua aparência pareceu pouco apetitosa. Em seguida, trouxe diante de Zeus e dos homens.
Zeus, que conhecia os rumos do destino – e não à toa é chamado por Homero de o “Porta-Égide” – sabia que de algum modo, estes acontecimentos resultariam em louvor para si e em desgraça para os mortais e Prometeu, com quem o deus já rivaliza. O Cronida Zeus se apressou em escolher a parte que lhe parecia mais apetitosa, a saber, os ossos encobertos de sulenta camada de gordura, porém ao examiná-lo, percebeu a estratagema de Prometeu, ao passo de que as aprazíveis carnes envoltas de aparência disforme couberam aos homens. O deus se enfureceu profundamente com o fato de ter sido ludibriado, ou pelo menos, ter sido alvo de um ardil de tal natureza.
Prometeu é constantemente relacionado às estratagemas – conforme seu nome faz referência -, tal como uma espécie de “Ulisses divinizado”, chamado por Homero de o “Ulisses de Mil Ardis”. Não sem motivo, Hesíodo o retrata por diversas vezes pelo epíteto “o ardiloso”.
Jean Pierre-Vernant argumenta como este fato – o engodo de Prometeu – simbolicamente representa o caráter eterno da divindade ao ser referida aos ossos – componente de estatuto perpétuo ou duradouro – enquanto os mortais são ligados à necessidade de se alimentar da carne efêmera, e não raro são chamados de “comedores de pães” por Hesíodo, representando tanto o fato de necessitarem extrair da natureza sua vitalidade, quanto do fato de que tanto seu alimento, quanto o próprio homem são passageiros.
Esta narrativa também originou o antigo rito grego de queimar aos deuses a ossada dos animais.
![Prometeu retratado em uma escultura de Nicolas-Sébastien Adam, 1762 (Louvre)](https://static.wixstatic.com/media/6aab26_4b15dbf52df746be92e089f169b0b3a2~mv2.webp/v1/fill/w_813,h_1080,al_c,q_85,enc_auto/6aab26_4b15dbf52df746be92e089f169b0b3a2~mv2.webp)
O Fogo Inextinguível
O fogo, que era guardado no interior das árvores – os Freixos – teve sua força retida pelo deus olímpico por conta de seu ressentimento contra os homens e contra Prometeu, causando graves danos aos mortais. Algumas lendas mencionam as árvores como receptáculo do fogo, talvez pelo fato de produzirem-no através de fricção ou servirem de combustível para tal.
Werner Jaeger menciona o fato do fogo atuar como uma espécie de símbolo da cultura humana, e neste sentido, Prometeu também traria luz à humanidade.
O Titã vai até o Olimpo – morada dos deuses – e rouba a semente do fogo inextinguível de Zeus, e a esconde no interior do caule de uma férula/funcho/canafrecha – são vários os termos utilizados nas diversas traduções para a referida planta, mas a ideia principal é remeter a um vegetal úmido por fora e seco por dentro, dúbio, não convencional, contrário dos demais vegetais, que representa mais um ardil na tentativa de enganar os deuses. Prometeu entrega aos homens a semente do fogo divino, e este acontecimento torna-se insuportável ao ofendido Zeus.
![Prometeu leva o fogo à humanidade Por Heinrich Friedrich Füger, 1817](https://static.wixstatic.com/media/6aab26_e29280dc7de64e89abfddc2931b62560~mv2.webp/v1/fill/w_980,h_1397,al_c,q_85,usm_0.66_1.00_0.01,enc_auto/6aab26_e29280dc7de64e89abfddc2931b62560~mv2.webp)
O Castigo de Prometeu e dos Homens: A Ave e Pandora
Como castigo, Prometeu é acorrentado no cume dum monte, onde todos os dias uma ave come seu fígado que logo após se regenera, entrando em um trágico círculo vicioso. Mais tarde, o infeliz Titã é salvo pelo herói Hércules, filho de Zeus, que faz vista grossa ao acontecimento para que a fama do filho se tornasse ainda mais notória.
Para o castigo destinado aos homens, Zeus pediu que Hefesto forjasse uma criatura belíssima. O deus-ferreiro criou uma mulher, e todos os demais deuses lhe atribuem uma qualidade, de forma que o próprio Olimpo ficou estarrecido com a beleza e graça da moça. Foi chamada de Pandora, “o belo-mal em troca de um bem (o fogo)”, conforme menciona Hesíodo.
Os deuses destinaram-na a Epimeteu, que não lembrou-se das palavras de seu irmão que o advertia para que não recebesse nada oriundo dos deuses. Juntamente com a moça, os deuses enviaram um jarro. Esta ocorrência se relaciona a etimologia do nome de Epimeteu (Epi – “depois/pós”), remetendo a alguém que é ludibriado, enganável, que dá-se conta depois do engodo.
Precisamos relembrar que os homens viviam tempos dourados, em que o trabalho não era árduo e a morte trágica não existia.
Certa ocasião, Pandora abre a tampa do jarro, espalhando sobre a terra toda sorte de tragédias e males. Apenas a Esperança – elpis – permanece no interior do jarro, sendo repelida pelas mãos de Pandora que fechou o jarro a tempo. Este evento reverte o estado pacifico do qual usufruíam os homens, condenando-os a lidarem agora com uma vida penosa.
Conclusão
Fica evidente a superioridade de Zeus sobre Prometeu. Embora a sagacidade, personificada por Atenas, seja compartilhada entre deuses e homens na mitologia – vide Zeus, Prometeu e Ulisses – torna-se evidente que a sabedoria divina se distancia dos demais, elevando Zeus a um patamar quase monoteísta – acima dos demais olimpianos – conforme argumenta Otto Maria Carpeaux em obras como a Ilíada e a Odisseia.
O mito de Prometeu é encontrado em textos de Hesíodo como a “Teogonia” e os “Trabalhos e Dias”, em “Prometeu Acorrentado” de Ésquilo, mas também em trechos como o diálogo platônico “Protágoras”.
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