![Princípios de Agostinho para melhorar a retórica](https://static.wixstatic.com/media/6aab26_8f78e0413f7e47caa0246cd753e8fffc~mv2.webp/v1/fill/w_980,h_644,al_c,q_85,usm_0.66_1.00_0.01,enc_auto/6aab26_8f78e0413f7e47caa0246cd753e8fffc~mv2.webp)
Sócrates – O início
Nascido por volta de 469 a.C. numa Atenas Clássica que assistia seus últimos anos de democracia instituída por Sólon, Sócrates e seus feitos foram descritos por basicamente três autores: Platão, Xenofonte, além das sátiras de Aristófanes.
É dito que Querofonte, um grego e amigo de Sócrates, enquanto visitava o Oráculo de Delfos, questionou a Pitonisa – a sacerdotisa do Templo – sobre quem seria o homem mais sábio de Atenas, ao que a Pitonisa respondeu: “Sócrates é o mais sábio”.
Quando Sócrates ouviu o relato de seu amigo, não pôde acreditar no que o Oráculo havia dito e entendeu que sua vocação era provar que esta predição supostamente estava errada.
Seguiu durante sua vida a inquirir àqueles que diziam ter algo a ensinar: Magistrados, Sofistas, Poetas e até mesmo artesãos. Sócrates constatou que aqueles que diziam saber algo, na realidade nada sabiam. Por exemplo, ao encontrar um famoso religioso chamado Eutífron, Sócrates o perguntou sobre o que seria a piedade, e o religioso, por sua vez, não conseguiu dar uma resposta, apenas citou casos do que seria uma suposta piedade. Ora, assim como se espera de um juiz que executa sua função com base na justiça saiba ao menos definir o que seja ‘justiça’, assim se espera que um religioso no mínimo saiba o que é ‘piedade’. Sumariamente, Sócrates foi encontrando indivíduos famosos por uma pseudo-intelectualidade e expondo o fato de que, na realidade, nada sabiam.
Ao assistir casos como esses em que Sócrates expunha a ignorância de indivíduos que se achavam sábios, as pessoas à volta ficavam impressionadas e a fama de Sócrates crescia.
Um pouco sobre seus modos e métodos
Sócrates tinha um método infalível de obter respostas das pessoas, mas antes de entender como funciona este método, é necessário sabermos que a principal motivação de Sócrates era a busca pela verdade. Sócrates não queria saber apenas como conceitos iguais Justiça e o Bem eram aplicados na sociedade, mas queria uma definição destes conceitos tão universal, clara e abrangente que pudesse ser aplicada seguramente em todos os casos particulares. Uma vez que a Justiça, por exemplo, estivesse bem definida, não seria mais necessário estudarmos a todo momento casos jurídicos entre duas ou mais pessoas para nos aproximarmos do conceito de Justiça, mas teríamos uma definição tão boa que seria possível aplicá-la em quaisquer casos que fosse necessário sem o medo de sermos injustos. A verdade é que Sócrates jamais conseguia uma definição com este nível de certeza para suas dúvidas, ficava sempre provado que aqueles que pretendiam ensinar sobre um determinado assunto, na realidade nada sabiam, e daí surge a famosa frase de Sócrates: “só sei que nada sei”, não como uma forma de escape da realidade e das perguntas, mas ele, ao contrário dos ditos sábios de sua época, não tentava ensinar aquilo que não sabia. Tal fato, o filósofo interpretou como sendo a sabedoria que o Oráculo havia lhe atribuído – não se passar por sábio. Ainda neste sentido, Sócrates se via como um “antídoto” que o deus aplicou a cidade de Atenas para curá-la da hipocrisia do academicismo ao verificar o exemplo de que aqueles como Sócrates que se dão de sua ignorância, na realidade são os verdadeiros sábios. Este pensamento custou caro a Sócrates e o levou ao sentenciamento à morte por Mileto sob a acusação de irreligião e corrupção dos jovens.
Feito este panorama, nos debates em que Sócrates participou em busca dos verdadeiros sábios, ele desenvolveu uma metodologia para buscar a verdade. Primeiro, ele perguntava sobre alguma questão e ao ser respondido pelo seu interlocutor, Sócrates continuava submetendo a premissa da resposta a novas indagações, até que se provasse se o argumento era verdadeiro ou falso. Essa forma dialética de validar ou não argumentos, ficou conhecida como “Maiêutica”, que está relacionada à ideia de parto ou obstetrícia; Sócrates se via como um “parteiro de ideias”.
Em segundo lugar, o ateniense, para atingir a verdade através, muitas das vezes, da vaidade de seu interlocutor que julgava-se sábio, utilizava a ironia para incentivá-lo a prosseguir dando respostas. No famoso caso de seu julgamento e posterior sentença de morte, o interlocutor de Sócrates é Meleto, o juiz, que entre outras coisas, acusa o filósofo de corromper os jovens. Para acusar alguém de um crime, primeiro deve-se definir o que seja o crime em questão, ao que Sócrates diz ironicamente:
“Ora, informe ao júri quem torna [os jovens] melhores, o que obviamente sabes já que te preocupas com isso. Afinal, segundo dizes, descobristes quem os corrompe e me trouxeste aqui onde me acusas perante este júri.”
Em outras ocasiões, Sócrates bajulava ironicamente seu interlocutor com elogios apenas para que estes com o ego inflado estivessem encorajados a dar respostas.
Um modelo ocidental
Sócrates, com este espírito especulador e incansável na busca pela Verdade, moldou a forma do Ocidente de buscar respostas não mais no cosmo ou na natureza, mas em si mesmo. Dizia ele que não há nada melhor para o homem do que passar seus dias falando sobre a Virtude, examinando a si mesmo e aos outros, e que uma vida sem esse exame não vale a pena ser vivida – seu famoso aforismo. No discurso de sua apologia e em outros textos, Sócrates deixa claro a futilidade da sabedoria humana à parte de uma conduta virtuosa, o qual confere o pathos necessário para o rompimento com os vícios.
Sua perspicácia em desnudar argumentos inválidos conferiram-lhe fama, mas sua conduta irredutível e até intransigente de perseguir a razão, seus ensinamentos – não obstante mais perguntasse do que respondesse – , e a coerência entre aquilo que pensava e praticava foram os fatores que o tornaram preeminente entre os gênios no cânone ocidental.
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