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Os níveis de leitura segundo Mortimer Adler – Leitura Elementar e Inspecional

Os níveis de leitura segundo Mortimer Adler – Leitura Elementar e Inspecional

Talvez o principal livro de introdução à vida de estudos seja o famigerado Como Ler Livros de Mortimer Adler. Nessa obra, o grande professor e estudioso traz um verdadeiro manual de como utilizar a leitura como ferramenta de aprendizado. Usando como referência os princípios da Educação Clássica, Adler apresenta orientações valiosíssimas para absorver o conteúdo de qualquer (bom) livro. O autor foi um o grande incentivador da Irmã Miriam Joseph para o resgate, organização e implementação do Trivium.
Iremos dividir esse assunto em alguns artigos, a princípio serão três, esse inicial para apresentar o que se pretende e comentar sobre os dois primeiros níveis de leitura: Elementar e Superficial. O próximo para desenvolver o terceiro nível, a leitura Analítica, talvez a mais importante. E por fim, o desenvolvimento do quarto nível, a leitura Sintópica, que seria mais o modo de organizar as leituras a fim de produzir algo. 

Sobre a Arte de Ler

Tipos de leitura

Adler apresenta 3 tipos de leitura que fazemos no cotidiano, cada uma com objetivos distintos, são eles, para se informar, para entreter e para entender. O primeiro diz respeito a jornais, revistas, blogs, locais que aumentam o nosso estoque de informações, dados e estatísticas. São leituras sem grande compromisso e nos atualizam com relação à contemporaneidades. A segunda seria apenas para se divertir, relaxar, se deleitar na própria história.
Por fim, a terceira estaria a um nível acima, onde se busca crescer intelectualmente, apreender efetivamente, elevar seu nível de conhecimento. O autor diz que nesse tipo de leitura a obra deve estar sempre a um nível acima de você, pois deve te estimular a alcançá-la, por só assim efetivamente iremos ampliar a nossa capacidade cognitiva e agregar conhecimento efetivo dentro de nós.
O autor inclusive propõe grande contribuição para a crítica literária fazendo a conexão entre a classificação literária e os 4 discursos de Aristóteles (veja nesse artigo importantíssimo).

Leitura Ativa

Adler diferente do que podemos imaginar, classifica a leitura como uma atividade completamente ativa. O leitor não é passivo em relação ao livre, pelo contrário, ele deve ser enfaticamente ativo, deve questionar o livros constantemente conversar com ele, fazer anotações, marcações, divisões. O ato de leitura deve ser uma ação com energia, com envolvimento direto e constante do leitor.
A grande tecla que o autor insiste é no conceito de conversar com o livro. A leitura é um processo de conversa com o autor. Todas as regras e conselhos que ele apresentará está baseados nesse princípio, de que devemos fazer perguntas! As perguntas nos mantêm ativos e envolvidos na construção do autor, podendo com isso absorver ao máximo o que o livro tem a oferecer, e essa é a verdadeira finalidade da leitura, absorver o conteúdo do livro.

Leitura Elementar

O primeiro nível de leitura apresentado por Adler versa sobre a Leitura Elementar. Na realidade, esse seria um distintivo da capacidade de alguém ler e compreender o texto. Parece ser esse um assunto relativamente simples, lego engano. Considerando o Brasil como referência, o volume de analfabetismo funcional impressiona. Segundo o Inaf – Indicador de Analfabetismo Funcional do Instituto Paulo Montenegro, 3 a cada 10 brasileiros são analfabetos (ou analfabetos funcionais). Ou seja, a leitura elementar, capacidade de ler e entender, é mais complexa do que aparenta (um excelente vídeo do professor Rafael Falcón comentando os resultados do estudo, veja aqui )
Portanto, o primeiro passo para Adler é ter convicção de estar fora dos assustadores números apresentados pelo Inaf e ter a capacidade de compreender em níveis mais elevados conceitos, teorias e abstrações. Com certeza, há muito o que se desenvolver sobre essa capacidade durante a vida, no entanto, o que se espera do leitor nesse nível é o mínimo necessário para adentrar nesse mundo. 

Leitura Inspecional

Adentrando efetivamente no que propõe o autor, apresentar um guia para leitura dos clássicos, o segundo nível é o início do contato efetivamente com o livro. Esse primeiro contato é fundamental e resultará em uma percepção geral da obra, desde a estrutura de construção do autor, assuntos centrais, divisões da obra e características do autor que influenciam a compreensão do assunto pretendido. 

O autor divide o nível em dois, o primeiro ele denomina de pré-leitura e o segundo de leitura superficial. Falaremos de ambos separadamente.

Pré-leitura

A primeira parte da leitura inspecional diz respeito à sondagem da obra. O que é fundamental para os passos posteriores, pois essa sondagem, se bem executada, irá possibilitar responder a principal pergunta que devemos fazer para qualquer livro: Deve ler esse livro agora? Portanto, essa primeira porção do segundo nível tem o objetivo de sondar o livro com a maior profundidade dentro do menor tempo possível, Por exemplo, nos 10-15 minutos que temos em uma livraria, biblioteca ou sebo. E o objetivo final deve ser responder a perguntas: Devo ler esse livro? Se sim, esse é o momento (da vida de estudos) ideal para lê-lo? Apenas se a resposta for sim, devemos prosseguir. 

Para essa inspeção, o leitor deve se atentar às pepitas deixadas pelo autor ou organizador. Ou seja, ler com atenção o título, subtítulo, capa e contra capa, orelhas, sumário, prefácio… tudo o que irá auxiliar a ter uma real ideia do todo do livro. Deve buscar responder o assunto do livro, o gênero, a construção básica do autor. Ou seja, ter a melhor percepção possível do todo do livro. 

Se após essa etapa o leitor responder positivamente às perguntas apresentadas e concluir que é o livro certo para o momento certo, ele deve prosseguir para a próxima etapa, a Leitura Superficial.

Leitura Superficial

Prosseguindo para o próximo passo, após o livro ser escolhido como ideal para o momento, o leitor deve lê-lo de uma vez. Ou seja, no menor tempo possível. Sem se preocupar em não ter compreendido com profundidade cada detalhe, o objetivo nesse momento é captar a ideia geral da obra. É entender o estilo do autor, seus trejeitos e modo de escrever, é captar a estrutura com que o autor construiu o livro. 

Assim como em todas as aulas, a leitura superficial deve ser ativa e exigente, isto é, fazer perguntas ao realizar a leitura. Para essa fase as perguntas a serem respondidas são: O que fala o livro? O que ele está dizendo realmente? Qual o estilo do autor? 

O grande segredo desse nível é a leitura de toda a obra sem grandes interrupções. Isso possibilitará ter a visão do todo, e para se aprofundar nas partes sem se perder, compreender o todo é imprescindível. 

Síntese

A arte de ler pode ser mais complexa do que imaginamos. Adler é um grande, talvez o melhor companheiro nessa jornada. Compreender e aplicar seu método fará você mudar a maneira como encara os livros. Os passos para a verdadeira compreensão de obras completas são os 4 níveis de leitura por ele apresentados. 

Primeiramente, fazer parte do seleto grupo que possui capacidade cognitiva de ler e interpretar um texto mais robusto. Após isso, se apresenta como um sedento pelo conhecimento, se propondo a organizar a sua leitura de um modo que não seja rápido, mas eficiente. Isso passa pelos níveis um e dois de leitura. 

O segundo diz respeito a obra em si e sua capacidade de saber se ela é ideal para o momento em que se encontra e se sim, se como adentrar nela, através da uma percepção do todo, que será fundamental para a compreensão aprofundada da obra. 

Posteriormente iremos tratar sobre os próximos dois níveis de leitura, Analítica e Sintópica. Essas sim exigirão paciência e concentração ativa do leitor, e é o que distingue a pessoa que lê e esquece, daquela que absorve efetivamente o conteúdo da obra.

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